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quinta-feira, novembro 27, 2003

Causas da decadência dos cadernos de apontamentos 

Começou por ser o "livro" onde registava os apontamentos dos retiros ("...imagem do barco à vela: cabo sob tensão, esticar a corda!..."), coisa íntima. Com o tempo, passou a acolher os esboços de projectos (artigo "4.ªclasse@hotmail.com": preçário artigos escolares 1956 / caneta de tinta permanente 15$00), bibliografia, apontamentos, números de telefone, etc.
Do seu lugar certo e discreto, passou a deambular pela casa (e especialmente pela cozinha).
Acabo de o folhear à procura de um contacto e deparo-me - atónito - com o seguinte texto (duas páginas antes do retiro - muito íntimo), escrito em letras garrafais, pela mão da Eugénia,

«Há sopa e arroz de polvo. Também há carne de galinha na panela de pressão!»

Gloriosas noites, 

Tenho saudades do Natal… Dei comigo a passear os pensamentos de carro pelas ruas molhadas e mágicas como só de noite se revelam e lembrei-me do Natal. Não sei se teve alguma coisa a ver com a iluminação alusiva, que este ano demora a atingir o pleno fulgor (por certo a crise não se compadece nem incorpora o espírito da época) mas por certo não só… Com mais brilho e menos pompa me lembro do Natal que há-de vir (o Natal não tem tempo). Por certo estará a fazer já falta a pausa utópica que ele representa, por certo preciso será recuperar o fôlego, respirar sofregamente a Paz e adormecer com um sorriso de criança… Tenho saudades do Natal… Ou estarei apenas errante?

quarta-feira, novembro 26, 2003

OU PORQUE É ASSIM A HISTÓRIA 

OU PORQUE É ASSIM A ITÁLIA.

A DESPEDIDA DA LUZ 

Desce, luz, a meus olhos,
descansa teu cansaço
neles, tão fatigados,
alivia-me e acaba-te no amor do homem.
Antes que se dilate
a sombra dessa noite
(...) levanta-me teu lenço
vem dizer-me que a vida
foi dia longo e fiel,
que de meu amor soube,
e amarei este cansaço.

Francisco Brines

domingo, novembro 23, 2003

INQUIETA: contributos para a genealogia da família Pinto da Costa 



"Em Fevereiro de 1754 foi administrado o sacramento do baptismo (em Outeiro de Gatos, Beira Alta) a um mouro que se dizia de Inqueta, que confrontava com a cidade de Roma, tendo recebido o nome de João de Jesus Maria José"

História Eclesiástica do bispado e da cidade de Lamego, vol VI, p. 385

sábado, novembro 22, 2003

Galileu (g=9.8 m/s2) 

«O verbo "Amar" pesa toneladas.
Toneladas de desgostos, de alegrias, de inquietudes, de sensações, de sangue, de dúvidas, de êxtases e de gemidos.

Não lhe fujas.

O verbo "não amar"
É ainda mais pesado»

Felix Leclerc

quinta-feira, novembro 20, 2003

Dar de beber à dor 

(aconteceu há cerca de quatro anos)
O metro abranda. Do seu lugar, levanta-se e sai uma mulher nova, de uma beleza helénica.
Dois brasileiros (cerca de 17 e 26 anos), em cada um dos lados da porta, ficam absortos com a visão. O mais velho "aperta" com o mais novo (com o sotaque e o requebrado devido): "Um docinho, né! Bom prá você!" Resposta: "Náaaa! Tenho qui comê muita sopa, ainda!" Contra-resposta: "Tem nada, não! Homem apaixônado, não cómi! ... Só bébi!!"

quarta-feira, novembro 19, 2003

NÓS E OS OUTROS [01] 


INTENSAMENTE (variações sobre um tema de Hannah Arendt) 

Mais do que dar a cada segundo as suas necessidades, há que dar a cada segundo os seus desejos

quem conta um conto  

A última vez que estive num bosque encontrei um coelho que fazia, à luz de uma vela, sombras de humanos, utilizando como "écran" o tronco de uma árvore.

terça-feira, novembro 18, 2003

& Jerry 

Tom: o mais recente companheiro secreto

# posted by Unknown : 11:15 da tarde

NÓS E OS OUTROS [01] 



Noite alta. Céu límpido. Os pescadores recolhem as suas redes, debaixo de focos de luz branca.
Ao longe, contra o fundo negro do horizonte, confundem-se com estrelas caídas, à deriva no mar.

# posted by Unknown : 10:28 da tarde

segunda-feira, novembro 17, 2003


# posted by Unknown : 11:25 da tarde

Milagres 

Reagi com espanto quando, faz tempo, me definiram a palavra "milagre" como «um acontecimento que nos remete para Deus». Um simples telefonema que nos "salva" no instante em que estamos suspensos sobre o vazio, um sorriso anónimo que nos reconcilia com a vida... Em última análise toda a criação remete para o Criador. Admiro-me com os que vivem conscientes disso.
«Um colégio tinha um porteiro. De cada vez que tocavam à porta, respondia: "Já vai Senhor, já vai..."»

# posted by Unknown : 11:24 da tarde

domingo, novembro 16, 2003

O futuro 

"Quando o Doutor Azeredo Perdigão tinha já 90 anos, foi homenageado com a medalha de ouro de uma famosa intituição alemã. No discurso de agradecimento que pronunciou na cerimónia de entrega, lembro-me de tê-lo ouvido afirmar, com toda a convição, que considerava tal homenagem um estímulo para, no futuro, fazer mais e melhor...»

Lição de sapiência do professor Eduardo Arantes de Oliveira, IST, Nov. 2003

# posted by Unknown : 9:00 da tarde

SAUDADES DE TI [01] 


# posted by Unknown : 2:22 da tarde

sábado, novembro 15, 2003

Casa em que não há pão ... trancas à porta 

Neste fim de semana as associações académicas discutem em Coimbra o encerramento a cadeado das respectivas faculdades. Quem atribui esta insolência às ganas da juventude, engana-se. O problema de Coimbra com as portas é crónico e tem barbas.
O episódio - impreciso e mal contado - reza assim:
Por ocasião do óbito do dr. Ferrer Correia - reitor honorário da Universidade - a reitoria distribuiu uma ordem de serviço informando do encerramento das portas de todas as faculdades por motivo de luto. A direcção da Faculdade de Letras, ciente da autonomia do Ensino Superior, fez orelhas surdas ao pedido. O senhor foi reitor da Universidade, mas não é motivo para tanto.
A reitoria, espantada com as portas escancaradas, decidiu reenviar o fax. A Faculdade, ofendida com a insistência, decidiu não responder.
O desfecho do romance é digno do Eça. A reitoria tratou de enviar um funcionário ao conselho directivo da Faculdade (de Letras), perguntar ao respectivo presidente «se por ventura ... não sabia ler?»...

# posted by Unknown : 5:50 da tarde

Robin Wood plays Bach 

Os Jerónimos não tinham orgão! Conciliaram-se vontades, arranjou-se o dinheiro: faltava definir o lugar para o instalar.
Na imaginação e opinão dos responsáveis, deambulou do coro alto para as capelas laterais, palmilhando cada metro quadrado de parede ou de chão disponível. Um orgão é algo a bem das artes! Mas convenhamos que não deixa de ser um elemento anacrónico no contexto do Manuelino.
Acontece que os Jerónimos já tiveram um orgão. Sorte miserável, enquanto durou a discução, reflexão, estudo, o mecanismo foi redescoberto em Mafra (onde tinha sido adandonado após o ciclo de restauros que - limpando a maquilhagem barroca - devolveu às igrejas o seu ar românico, gótico ou manuelino). Ora, havendo o instrumento original, não faz sentido não o recuperar para instalar um novo. E como a recuperação deste, dado o seu mau estado, não é possível, manda o mesmo bom senso que não se instale nenhum.
"A quem não tem será dado, a quem tem será tirado!"

# posted by Unknown : 5:24 da tarde

sexta-feira, novembro 14, 2003

FORA D' HORAS [01] 

um renitente acordar...



Miguel Rio Branco

# posted by Unknown : 12:00 da manhã

quarta-feira, novembro 12, 2003

o optimismo de cada dia 

Há na santidade um optimismo desarmante. Vi hoje alguém com uma T-shirt (um optimista meteorológico!) com esta frase de São Filipe de Neri estampada: "Sejam bons rapazes, se puderem".

# posted by Anónimo : 8:36 da tarde

terça-feira, novembro 11, 2003

um silêncio teu à maneira de Seurat 




# posted by Anónimo : 11:57 da tarde

"Ao Eça não se bate, nem com uma flor!" 

Eça de Queiróz nunca foi muito benevolente com as mulheres. Admirar-lhes-ia certos encantos, impróprios de um serão na biblioteca ou de uma conversa de café. Como em tudo, haveria excepções. Da sua cunhada Benedita (?) dizia ser "inteligente como um homem!".
A (até agora) santíssima trindade do "Album das glórias" tem hoje o prazer de acolher na equipa uma mulher. O politicamente correcto, que rege o tempo presente, não nos permite (ao contrário de Eça, e com prejuízo da citada) fazer mais comentários!

# posted by Unknown : 2:53 da tarde

A Bela (infância) Adormecida 

Manhã de sábado. Estrada para Almeida. Chove. Páro para beber um café. Num canto do estabelecimento meio "atascado", o filho do dono toma o pequeno-almoço, estático, hipnotizado pela televisão. Desenhos animados. A madrasta e as meias-irmãs - pessoas simpáticas, bem sucedidas, bem pensantes, de presença agradável - zombam da gata borralheira - uma "mula de trabalho", ingénua, desadequada, inconveniente. A criança, de olhos esbugalhados, emociona-se. Deve ter uns 8 anos. Não tardará muito para sonhar ser como elas.

# posted by Unknown : 1:31 da manhã

terça-feira, novembro 04, 2003

O Purgatório I 

As fotografias dos refugiados, das crianças da Etiópia, da guerra, da morte, vistas de longe, num museu ocidental rodeado de frondosas árvores – subtraídas do contexto, esvaziadas do stress e do desespero, sem som, sem cheiro, sem dor – encerram uma beleza fascinante (e incómoda). Aprisionam o intantâneo, destilam o desejo, a vaidade, o orgulho, os afectos, a misericórdia, num concentrado grau de pureza. Fixam-nos e imortalizam-nos. O tempo pára. Na escola em África, debaixo do embondeiro, as crianças (serão sempre crianças e) serão felizes para sempre...

Os sentidos e o “stress”, através dos quais interagimos com a realidade à nossa volta – os sentidos que interpretam os estímulos, e o “stress” que nos induz a reagir – que procuram incessantemente essa beleza são também o seu maior obstáculo. A visão, encantada com um cigano ranhoso e traquinas, pouco pode contra o pestilento odor. O prazer do violoncelista subir ao palco pode ficar soterrado perante a inadmissibilidade do percalço, pela pressão da perfeição.

# posted by Unknown : 12:13 da tarde

O Purgatório II 

Os nossos disparates, deslizes, dificuldades – após um período de nojo, por vezes de segundos - (igualmente) subtraídas ao seu contexto, reduzidas à importância que (não) têm, transformam-se em estórias deliciosas para contar à mesa (aos netos, se a tanto chegarmos). Um mecanismo de exorcismo, ou simplesmente darmo-nos conta do essencial, ter liberdade diante das circunstâncias (serenidade, simplicidade, sapiência)...

No purgatório, descrevia um cardeal, teremos os nosso pecados escritos na testa. Certos da eternidade - diante do Absoluto - rir-nos-emos de nós próprios e uns dos outros (dos disparates, das nossa certezas, da importância que não têm).

Por aqui, no Álbum das Glórias, vamo-nos rindo de nós e dos outros. Adiantamos trabalho, com esperança numa redução da pena...

# posted by Unknown : 12:12 da tarde

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